Foto: Vitor Hugo
Não,
escrever não é preciso.
Navegar é preciso, sim: exige cálculo, mapa, bússola, astrolábio, gps, método,
experiência... precisão.
Escrever,
não. Quando se parte para a escrita, ainda mais a escrita desinteressada de um
blog, não se sabe onde vai chegar. O importante é a partida, ou melhor, a
travessia. E é assim que partimos, de uma folha em branco e desinteressada.
O navio precisa chegar, aportar, contar ao rei o que há nas novas terras. A escrita não. Escrever é como viver. "Viver não é preciso", ah, Pessoa! Viver não exige método, cálculo, instrumentos, fórmula certa. Só se aprende a viver vivendo. Assim é a escrita. Só se aprende a escrever escrevendo. É verbo no movimento do gerúndio, não no imóvel do infinitivo. A escrita apenas parte. Por isso ela vai dentro de uma garrafa, saltando de onda em onda, arriscando-se entre os rochedos, tropeçando em busca de alguém que lhe encontre e, talvez, lhe dê algum destino digno.
Mas também pode
ser farol no meio do mar. No seu movimento giratório pode, por algum instante,
iluminar a alma de quem lê e de quem escreve. Por isso, escrever é necessário,
sim, e muito! Em tempos sombrios, mais ainda. Encontrar a palavra certa pra
doutor não reclamar. Avohai!
Sade sabia e necessitava da escrita tanto quanto ela dele. Escreveu com tinta, sangue, voz, com o que foi possível. Era sua sobrevivência. Não importa se alguém o leria. Não importa o destino. Sem a escrita, enlouqueceria. E era ela que seus algozes atacavam. Mais que seu corpo. Porque as ideias são mais fortes que os ossos.
A criação é uma inquietação. Fervilha até encontrar um lugar por onde sair. Se não sai, enlouquecemos. Leminski já dizia, o uso da linguagem dá um barato legal. Com técnica ou não, o importante é partir. O talentoso que não se diverte inveja o trôpego que brinca com a pouca técnica que tem. Jouer, to play... tocar, atuar, brincar, não por acaso são semânticas próximas.
Partir do
zero, da página em branco, do silêncio. A parte mais difícil é o início do
texto. “Então comece pelo meio”, dizia um professor meu. E assim
partimos nessa nave grená, argonautas insensatos, sem destino, sem velo de ouro; escrevendo sem
nenhuma precisão, apenas pela necessidade da travessia, para escapar da loucura,
ou talvez em nome dela. Página em branco. Vamos nós!
"Escrever não é preciso", mas porquê é tão difícil? Navegar é preciso e
ResponderExcluirexige método e tals, mas parece mais fácil. Às vezes fecho os olhos e
navego...
Gostei do conselho que seu professor te deu "comece do meio". E quando você
só tem o final? Ahh!!! Quantas questões esse texto me trouxe, geraria um
novo texto, mas ainda bem que não é preciso!